quinta-feira, 20 de março de 2014

Cinemaninho – 12 homens e uma sentença

           Por Elton "Smaug" R. Vieira


Todo mundo tem um objetivo na vida. Pelo menos, todo mundo deveria ter um objetivo na vida. O meu, desde que abracei a docência, é espalhar cultura para vocês. Todo o tipo de cultura. Cultura acadêmica, cultura escolar, cultura social, cultura nerd, cultura pop, cultura esportiva.

Não à toa, minha principal seção aqui nessa humilde residência nesse blog é o “Card Game Também é Cultura”. Mas aqui, no “Cinemaninho” vou começar a puxar filmes clássicos e ápices da 7ª Arte, com o intuito de criar uma audiência culturalmente rica (até porque “monetariamente rica” está difícil).


Assim, vamos discutir uma obra que é considerada um marco do cinema. Uma obra prima, que conta a história de um homem que também tem um objetivo na vida. Qual objetivo? Fazer o que é certo. Então vamos falar de DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA (12 Angry Men, 1957).

Sim, o filme é antigo assim!
Com os efeitos especiais atuais, é possível fazer personagens atuarem em grandes paisagens, impossíveis cenários. Criar mundos que tenham suas próprias regras. Nos meados do século passado havia filmes que, apesar da falta de tecnologia, construíam mundos para serem explorados. A imaginação é o limite da criação.

Mas não era isso que o roteirista Reginald Rose (2002) queria. Ele escreveu um filme sobre as relações humanas que se passa praticamente TODO em uma sala fechada.

Nessa sala!

O filme começa com um julgamento de um rapaz que foi acusado de assassinar o pai e está sendo sentenciado à cadeira elétrica. Terminada as sessões de ataque e defesa, os 12 jurados vão para uma sala deliberar sobre o caso e entrar em consenso para dar um único veredicto: culpado ou inocente. Seria uma decisão fácil, pois todos estavam mais do que propensos em acreditar na culpa do jovem. Seria. Mas as coisas complicam quando o Jurado Nº 8 (Henry Fonda) questiona a falta de provas para incriminar o rapaz.

A partir daí DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA só cresce. Os conflitos de personalidade, origem e cultura afloram a medida que o Jurado Nº8 vai listando seus argumentos contra a culpa do réu. Os jurados não têm nomes, o que ajuda na construção dos estereótipos que bem que poderiam ser você ou eu. Há 12 personalidades diferentes, comportamentos diferentes. E tudo isso é explorado com maestria pelo diretor Sidney Lumet (Redes de Intrigas, Antes que o diabo saiba que você está morto).

Henry Fonda e um dos seus personagens mais marcantes.

Os diálogos afiados e inteligentes permitem  facilmente fazer uma ligação com o que acontece hoje em dia. A rapidez que nós julgamos alguém sem nem mesmo buscar os fatos. A pressa em sentenciar uma pessoa sem sabermos o contexto. Em DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA o palco de discussão é uma sala fechada. Hoje o palco são as redes sociais, abertas ao público, tornando mais desastrosa ainda o julgamento rápido. 

Para dar a progressiva sensação de claustrofobia, Lumet vai utilizando mais closes e posicionamento de câmera ao decorrer do filme e assim aumentando a sensação. O calor é tratado quase como um personagem da trama. 

O elenco também é ponto forte do filme. Henry Fonda faz de seu Jurado Nº8 um questionador educado, mas feroz. Carrega toda trama com sua busca por justiça. Mas o destaque é mesmo de Lee J. Cobb e seu Jurado Nº3. Antagonista do filme, atuação forte e inspirada. 

O diretor chegou a deixar os atores presos por horas na sala, antes de gravar, para deixa-los no mesmo estado de espírito dos seus papéis.

Acho que nosso jurado 3 tem alguma coisa pra dizer...

Considerado um dos melhores filmes de tribunal já realizados, em seu filme de estreia, Lumet já demonstra sua imensa habilidade de explorar os dramas humanos, as relações interpessoais, a dificuldade de comunicação do ser humano, a incompreensão e o egoísmo.

Clássico inquestionável. Filme obrigatório para todo mundo que gosta de cinema. Provando que para fazer um bom filme é preciso apenas uma boa ideia, uma câmera e um cenário.

That’s all folks.

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